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terça-feira, 26 de abril de 2011

O chorão, a lua e o lago.

Vocês conhecem o chorão? Aquela árvore assim alta, magra, meio despencada, com uns galhos compridos até o chão? Pois diz a Juçara que o chorão não era assim.
Era uma árvore toda esticadinha, muito orgulhosa e antipática. Ela morava na beira de um lago bem clarinho. Pois imagina que o Chorão — que naquele tempo não se chamava chorão, mas salgueiro — inventou de se apaixonar pela Lua. Só que o Lago também se apaixonou, ao mesmo tempo.
Ficavam os dois, o Chorão e o Lago, todos suspirosos quando a Lua aparecia atrás da montanha, ao anoitecer. Tantas caras e bocas fizeram que um vaga-lume muito fofoqueiro ouviu a história da tal paixão e foi contar pra Lua.
A Lua, claro, ficou muito envaidecida. Quem que não gosta que os outros se apaixonem pela gente? Pois a Lua mandou dizer aos dois apaixonados que, na próxima sexta-feira, quando estivesse bem cheia e aparecesse atrás da montanha, o pretendente que estivesse mais bonito, na hora ela ficava noiva.
O Chorão ficou na maior empolgação. Fez amizade com o vaga-lume, interesseiro que era. E pediu a ele que chamasse todos os amigos vaga-lumes para enfeitá-lo todo, na sexta-feira de tardezinha. O pobre do Lago era muito desajeitado e humildezinho. Até tentou se enfeitar um pouco, mas os enfeites todos scorregavam na superfície dele e acabavam afundando.
Quando chegou a sexta-feira, o Chorão estava lindaço, cheio de vaga-lumezinhos vaga-lumeando brilhosos nos galhos. Parecia uma árvore de Natal. E tão atrevido! Debochava horrores do pobre Lago, que só tinha uns peixinhos muito assustados espiando de vez em quando. A Juçara diz que aquele salgueiro estava um nojo, de tão exibido e certo de que ia ficar noivo da Lua.
Mas acontece que, na hora em que a Lua apareceu atrás da montanha, ela viu todo aquele brilho do salgueiro refletido — onde? Ora, nas águas do pobrezinho do Lago, umas águas muito limpinhas e quietas. Claaaaaaaaro que ela achou o Lago muitíssimo mais bonito. Aí ficou noiva dele na hora, e nas sete noites de lua cheia vem se banhar nua nas suas águas quentinhas. O salgueiro? Ah, ficou tão desapontado que começou a despencar, despencar, despencar até virar essa árvore tristonha que a gente agora chama de chorão.
Não é bonita a historinha da Juçara? Você pode achar um pouquinho triste, também, mas eu acho ótimo que o chorão tenha sido castigado pelo seu orgulho. Daí, penso também outra coisa de gente grande: não adianta muito você se enfeitar todo pra uma pessoa gostar mais de você. Porque, se ela gostar, vai gostar de qualquer jeito, do jeito que você é mesmo, sem brilhos falsos.


(Caio Fernando Abreu)

6 comentários:

  1. Olá, primeira visita ao blog e completamente encantada. de verdade!Adorei tudo por aqui!
    E essa historinha do chorão é linda demais!
    E as palavras finais do Caio são muito verdadeiras, né?
    Sabe que quando você tem ao seu lado alguém que verdadeiramente lhe ama pelo que você é e não pelo que você aparenta você acaba irradiando cada vez mais brilho, cada vez mais luz...
    Adorei mesmo o seu canto, viu?
    Bjs!
    Déia

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  2. Puxa, que linda história.
    Adorei muito. Estava precisando ler algo assim hj!
    Sempre lindo teu blog, adoro passar por aqui!
    Um beijo

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  3. Que liindo!
    Adorei!
    Beijos meus

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  4. Uma graça o seu blog, e viva caio!! ;D

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  5. Muita bonita mesmo! De nada adianta tantos apetrechos, precisamos mesmo é sermos verdadeiros..

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  6. Que lindo....
    Caio até na simplicidade de uma história aparentemente para criança é de uma sutileza sem igual...

    Beijos e uma linda semana pra você querida.

    Ani

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